Adriano Macedo | Pescadas Expressas

terça-feira, 9 de abril de 2013

O que fica do que passa: Uva de caminhão

MÚSICA


Organizando caixas e revirando papeis expressos, encontro uma cópia da revista literária Edifício, lançada em 1946 pelo professor, pesquisador e ensaísta Francisco Iglésias (1923-1999) com alguns companheiros de sua geração. Ele foi redator da publicação, que teve vida curta, quatro edições se não me engano. Entre os textos publicados o clássico E agora, José?, de Carlos Drummond de Andrade.

Estive na casa do professor Iglésias há quinze anos e o que me vem à memória não é a entrevista que fiz com ele sobre a revista, mas um comentário sobre a música Uva de Caminhão, de Assis Valente (1911-1958), contemporâneo de Cartola, Ary Barroso e Noel Rosa. Composta em 1939, foi considerada por Iglésias uma das músicas mais "indecentes" da Música Popular  Brasileira. E sobreviveu às ditaduras e censuras. Era uma época em que geniais compositores escreviam letras com refinada inteligência e ironia.

E esta música me vem à mente neste momento, quando relembro o professor Iglésias cantando a música ao pé do ouvido, batucando uma caixinha de fósforo. Como a vida é marcada por coincidências ou sincronias, como diria a escritora Ana Maria Machado, constato que o professor completaria, no dia 28 de abril, 90 anos de nascimento. E que ele morreu em fevereiro de 1999, mesmo ano em que foi lançado o CD Assis Valente com Dendê - Sons da Bahia. E lá está a música Uva de Caminhão. No youtube, a música está disponível com outra intérprete.

Uva de Caminhão

Já me disseram que você andou pintando o sete
Andou chupando muita uva e até de caminhão
Agora anda dizendo que está de apendicite
Vai entrar no canivete, vai fazer operação

Oi, que tem a Florisbela nas cadeiras dela
Andou dizendo que ganhou a "flauta de bambu"
Abandonou a batucada lá na Praça Onze
E foi dançar o "pirulito" lá no Grajaú

"Caiu o pano da cuíca", em boas condições
Apareceu Branca de Neve com os Sete Anões
E na pensão da dona Estela foram farrear
"Quebra, quebra gabiroba" quero ver quebrar

Você no "Baile dos quarenta" deu o que falar
Cantando o "seu Caramuru" bota o Pajé pra brincar
Tira, não tira o Pajé, deixa o Pajé farrear
"Eu não te dou a chupeta", não adianta chorar

Se quiser conhecer um pouco mais sobre Assis Valente, acesse o link abaixo para assistir a um programa especial da TV Brasil, exibido no ano do centenário do seu nascimento.

De Lá Pra Cá

Sobre Francisco Iglésias, vamos ver se o mercado editorial reserva alguma surpresa para a efeméride ou se a data passará em branco.

Foto Assis Valente: Wikipédia




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