Adriano Macedo | Pescadas Expressas

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Beaglemania: célebres cães na literatura brasileira emocionam muito mais




       A raça Beagle bombou na mídia convencionou e na Internet. Foi assunto da semana passada desde a invasão ao laboratório do Instituto Royal, em São Roque (SP). O incidente provocou uma Beaglemania, ocupou horas em reportagens na televisão, no rádio e em portais de notícia, virou capa de revistas semanais, incentivou posts diversos na mídia social e acabou valorizando a raça, que chegou a triplicar de preço em muitos mercados, em poucos dias. Uma simples busca hoje no Google com o nome da raça gera quase 25 milhões de resultados em fração de segundo.

Esta história toda, que levou jornalistas a se enveredarem pelo drama dos cachorrinhos e pelas discussões éticas em torno de pesquisas com os animais me fez recordar famosos textos da literatura brasileira, alguns relacionados a simples vira-latas que se tornaram inesquecíveis. Se você se emocionou com o drama dos Beagles, aqui vai uma listinha com sugestão de leitura de contos, crônicas e trechos de romance com algumas histórias emocionantes sobre cachorros. Para mim, uma das melhores é o drama de Baleia, que integra o romance "Vida Secas", de Graciliano Ramos, transformado em filme pela genialidade do cineasta Nelson Pereira dos Santos, em 1963 (foto acima):

Amigo Cachorro, de Belmiro Braga
Mila e Rua Mila, de Carlos Heitor Cony
Tentação, de Clarice Lispector
Perigo, de Domingos Pellegrini
Baleia, de Graciliano Ramos
Pingo-de-ouro, de Guimarães Rosa
Veludo, de Luiz Guimarães
Biruta, de Lygia Fagundes Telles
Plutão, de Olavo Bilac
Madrugada, de Orígenes Lessa
Bruno Lichtenstein, de Rubem Braga

       Se você conhece algum outro texto e quiser colaborar com a lista anterior, é só fazer o comentário abaixo deste post.

       Em respeito aos direitos autorais, não posso reproduzir a maioria aqui, mas deixo registrado o poema Veludo, de Luiz Guimarães, já em domínio público.

Eu tive um cão. Chamava-se Veludo:
Magro, asqueroso, revoltante, imundo,
Para dizer numa palavra tudo
Foi o mais feio cão que houve no mundo.

Recebi-o das mãos dum camarada.
Na hora da partida, o cão gemendo
Não me queria acompanhar por nada:
Enfim − mau grado seu − o vim trazendo.

O meu amigo cabisbaixo, mudo,
Olhava-o ... o sol nas ondas se abismava....
«Adeus!» − me disse,− e ao afagar Veludo
Nos olhos seus o pranto borbulhava.

«Trata-o bem. Verás como rasteiro
Te indicarás os mais sutis perigos;
Adeus! E que este amigo verdadeiro
Te console no mundo ermo de amigos.»

Veludo a custo habituou-se à vida
Que o destino de novo lhe escolhera;
Sua rugosa pálpebra sentida
Chorava o antigo dono que perdera.

Nas longas noites de luar brilhante,
Febril, convulso, trêmulo, agitado
A sua cauda − caminhava errante
A luz da lua − tristemente uivando

Toussenel: Figuier e a lista imensa
Dos modernos zoológicos doutores
Dizem que o cão é um animal que pensa:
Talvez tenham razão estes senhores.

Lembro-me ainda. Trouxe-me o correio,
Cinco meses depois, do meu amigo
Um envelope fartamente cheio:
Era uma carta. Carta! era um artigo

Contendo a narração miúda e exata
Da travessia. Dava-me importantes
Notícias do Brasil e de La Plata,
Falava em rios, árvores gigantes:

Gabava o steamer que o levou; dizia
Que ia tentar inúmeras empresas:
Contava-me também que a bordo havia
Mulheres joviais − todas francesas.

Assombrava-me muito da ligeira
Moralidade que encontrou a bordo:
Citava o caso d’uma passageira...
Mil coisas mais de que me não recordo.

Finalmente, por baixo disso tudo
Em nota breve do melhor cursivo
Recomendava o pobre do Veludo
Pedindo a Deus que o conservasse vivo.

Enquanto eu lia, o cão tranquilo e atento
Me contemplava, e − creia que é verdade,
Vi, comovido, vi nesse momento
Seus olhos gotejarem de saudade.

Depois lambeu-me as mãos humildemente,
Estendeu-se a meus pés silencioso
Movendo a cauda, − e adormeceu contente
Farto d’um puro e satisfeito gozo.

Passou-se o tempo. Finalmente um dia
Vi-me livre d’aquele companheiro;
Para nada Veludo me servia,
Dei-o à mulher d’um velho carvoeiro.

E respirei! «Graças a Deus! Já posso»
Dizia eu «viver neste bom mundo
Sem ter que dar diariamente um osso
A um bicho vil, a um feio cão imundo».

Gosto dos animais, porém prefiro
A essa raça baixa e aduladora
Um alazão inglês, de sela ou tiro,
Ou uma gata branca sismadora.

Mal respirei, porém! Quando dormia
E a negra noite amortalhava tudo
Senti que à minha porta alguém batia:
Fui ver quem era. Abri. Era Veludo.

Saltou-me às mãos, lambeu-me os pés ganindo,
Farejou toda a casa satisfeito;
E − de cansado − foi rolar dormindo
Como uma pedra, junto do meu leito.

Praguejei furioso. Era execrável
Suportar esse hóspede importuno
Que me seguia como o miserável
Ladrão, ou como um pérfido gatuno.

E resolvi-me enfim. Certo, é custoso
Dizê-lo em alta voz e confessá-lo
Para livrar-me desse cão leproso
Havia um meio só: era matá-lo

Zunia a asa fúnebre dos ventos;
Ao longe o mar na solidão gemendo
Arrebentava em uivos e lamentos...
De instante em instante ia o tufão crescendo.

Chamei Veludo; ele seguia-me. Entanto
A fremente borrasca me arrancava
Dos frios ombros o revolto manto
E a chuva meus cabelos fustigava.

Despertei um barqueiro. Contra o vento,
Contra as ondas coléricas vogamos;
Dava-me força o torvo pensamento:
Peguei num remo − e com furor remamos

Veludo à proa olhava-me choroso
Como o cordeiro no final momento,
Embora! Era fatal! Era forçoso
Livrar-me enfim desse animal nojento.

No largo mar ergui-o nos meus braços
E arremessei-o às ondas de repente...
Ele moveu gemendo os membros lassos
Lutando contra a morte. Era pungente.

Voltei à terra − entrei em casa. O vento
Zunia sempre na amplidão profundo.
E pareceu-me ouvir o atroz lamento
De Veludo nas ondas moribundo.

Mas ao despir dos ombros meus o manto
Notei − oh grande dor! − haver perdido
Uma relíquia que eu prezava tanto!
Era um cordão de prata: − eu tinha-o unido

Contra o meu coração constantemente
E o conservava no maior recato
Pois minha mãe me dera essa corrente
E, suspenso à corrente, o seu retrato.

Certo caíra além no mar profundo,
No eterno abismo que devora tudo;
E foi o cão, foi esse cão imundo
A causa do meu mal! Ah, se Veludo

Duas vidas tivera − duas vidas
Eu arrancaria àquela besta morta
E àquelas vis entranhas corrompidas.
Nisto senti uivar à minha porta.

Corri, − abri... Era Veludo! Arfava:
Estendeu-se a meus pés, − e docemente
Deixou cair da boca que espumava
A medalha suspensa da corrente.

Fôra crível, oh Deus? − Ajoelhado
Junto do cão − estupefato, absorto,
Palpei-lhe o corpo: estava enregelado;
Sacudi-o, chamei-o! Estava morto.

Crédito da foto: Blog Ler Antes de Morrer 

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Contagem regressiva para a Copa de Literatura Brasileira



Deu na Folha de S.Paulo do último fim de semana (14/07/13). Falta menos de um mês para o início da quinta edição da Copa de Literatura Brasileira.

Em campo, estarão na disputa 16 romances brasileiros, publicados em 2011 e 2012, em jogos de mata-mata. Serão mais de 20 partidas, apitadas por 23 juízes entre escritores, professores universitários de diversos Estados e blogueiros.

O romance vencedor de cada partida avança para a próxima fase até se sagrar campeão. O juiz explicará a decisão, em resenhas publicadas no site do torneio, que ainda mantém a memória das últimas edições.

A ideia  é muito boa para um país onde os passes de letra estão escassos e que está longe de ser uma pátria literária. Que os organizadores possam ganhar adeptos e apoio para estimular a realização de campeonatos regionais (como o Gauchão de Literatura), uma forma de dar visibilidade a autores que batem um bolão e marcam verdadeiros “gols de placa”, porém ainda distantes dos cartolas do mercado editorial.

Crédito da foto: Lincoln, que criou a imagem para ilustrar crônica, no Diário do Nordeste, sobre novo livro do pesquisador Mauro Rosso sobre uma épica disputa literária entre Coelho Neto e Lima Barreto. 


domingo, 30 de junho de 2013

O que fica do que passa: O taxista escritor Vário do Andaraí



O taxista Vário do Andaraí se depara, nas noites cariocas, com personagens curiosos e plurais. Figura anônima das ruas e vielas encardidas do Andaraí, como se autodefine, morador no limite da Tijuca, circula pela cidade a bordo da viatura 055, à escuta dos chamados do rádio da cooperativa e das histórias dos passageiros de curta duração. 

Em 2010, enveredou pela literatura e teve o primeiro livro publicado, A máquina de revelar destinos não cumpridos (Editora Dimensão), reconhecido pelo Prêmio Jabuti, ganhando o segundo lugar na categoria Contos e Crônicas. Neste diário de bordo ficcional, o leitor se depara com personagens saídos do imaginário real e fantástico das ruas do Rio de Janeiro, a bela e a fera (um chimpanzé de nome Kant), um cego desconfiado, uma família humilde no meio da madrugada, um mágico, uma passageira careca, Constantino e Flash (inventores da máquina de revelar destinos não cumpridos, narrativa que dá nome ao livro), a Branca-de-Neve acompanhada do Homem-Aranha e do casal Batman e Robin, entre inúmeros outros. 

Numa breve passagem pela cidade, o Pescadas Expressas teve a oportunidade de conhecer este autor, boxeador nas horas vagas, e personagem que certamente vai tarifar muitas histórias conduzidas pelas ruas da cidade.  

Você costuma dizer que brinca de taxista na noite carioca. Quando percebeu que seria possível criar e transportar personagens da cidade do Rio de Janeiro para o mundo da ficção?

Tornei-me taxista faz uns sete, oito anos. A espoleta que disparou a decisão de escrever crônicas com viés de conto, e cujo narrador seria uma espécie de alter ego, foi a percepção de que a função de taxista tinha muito a ver com minha personalidade e com minha história pessoal. Me dei conta de que dava pra falar da vida à minha maneira vária, ora catártica, ora lírica, ora com recursos de roteiro, ora contraditória, mas sempre com o humor de permeio. Aquele livro sou eu com volutas rococó.



O oficio do taxista me parece uma narrativa breve sobre rodas, um recorte no tempo e no espaço durante um percurso definido pelos personagens a bordo. O livro A Máquina de Revelar Destinos Não Cumpridos acaba sendo o retrato um pouco desta premissa. Qual personagem mais te marcou em toda a sua história como condutor de táxi? 

De antemão, esclareço que o que lá no livro vai escrito não é a reprodução da acontecimentos nos assentos da viatura. As crônicas misturam passagens ocorridas de fato com reflexões pessoais e ficção. Nenhuma história me marcou tanto como um acontecimento verídico e que não está no livro: um homem velho, militar aposentado (portanto com uma pensão razoável), com Alzheimer ou qualquer outra disfunção neurológica, com uma soma razoável de dinheiro no bolso, sem endereço ou telefone de sua casa ou de parentes entre seus pertences, entrou no táxi desorientado.

Pedi-lhe seus documentos, e, entre umas anotações num pedaço roto, alguns celulares anotados. Por sorte, ao ligar pra um deles, depois de um tempo de conversa com o desconhecido do outro lado da linha, consigo descobrir de quem se tratava o homem extraviado e onde morava. Ao chegar a sua casa, notei que a mulher jovem, bem mais jovem que ele, portou-se friamente com o "achamento" do desaparecido. Me deu um estalo intuitivo. Posso estar enganado, mas desconfio até hoje de que a mulher deixou a porta de casa destrancada para que o homem ganhasse mundo e sumisse, e assim, ela se visse livre de um problema e com a pensão do militar.

Quando nos encontramos recentemente no Rio, você comentou sobre as supostas preferências das editoras sobre os cânones literários e autores midiáticos. Como vem construindo sua trajetória literária diante deste cenário?

Deixe-me refazer a introdução da sua pergunta: penso que o ambiente literário brasileiro é habitado sobretudo por autores ligados ao jornalismo ou ao meio acadêmico, e que, a partir dessas duas grandes categorias, as afinidades pessoais e grupos se estabelecem. Desconfio de que, a um franco-atirador como eu, taxista e avulso, o espaço disponível é aquele que convencionalmente se reserva ao pitoresco, ou ao adventício, ou à condescendência.

Evidentemente,  quando falo literário, estou me referindo àquele tipo de escrita que tem pretensões a ser o que se encaixa no que a teoria da literatura define como “boa” literatura. Claro que há o espaço que aparece, ou se faz aparecer, por aquele tipo de autor que, não sendo jornalista ou do meio acadêmico,  com o aríete das boas vendas, arromba a porta do salão onde está rolando o coquetel.
Tenho dois livros de qualidade razoável publicados, vou vivendo minha vida, me esforçando para, cada vez menos, me preocupar em “carreira” ou trajetória literária. Qualquer dia, quem sabe?, eu acerto no milhar e na centena (risada cínica)  e vou pra Maracangalha com a Maricotinha do Dorival Caymmi.

Quais as suas próximas investidas literárias?

Estou fazendo anotações para dois originais, sem data para início ou fim de suas escrituras; estou também tentando fazer uma parceria com um pessoal de um grupo teatral de BH. Regularmente faço postagens autorais curtas no meu blog − afazer de que gosto imensamente, e escrevo esporadicamente em projetos para que sou chamado a colaborar, como encarte de cd, letra de música, legendas para fotografias em exposições públicas ou em livros.  Mas tudo isso feito a amador, em sua dupla acepção – como o que ama e como o que não tira sua subsistência da atividade. 

sábado, 18 de maio de 2013

Ecodesign cria soluções amigáveis ao planeta


DESIGN VERDE


Você não precisa dominar as técnicas milenares do bonsai para cultivar uma mini árvore em casa. Esta é apenas uma das pescadas de hoje, depois de viagens expressas pelo mundo. O bonsai é ainda mais especial porque pode carregar o seu celular. É isso mesmo. A designer francesa Vivien Muller desenvolveu a Electree, um bonsai contemporâneo de aproximadamente 40 cm de altura cujas folhas são 27 pequenos painéis fotovoltaicos que captam a energia do sol e a convertem em eletricidade. A energia é armazenada numa bateria instalada na base (por baixo do "solo") e é capaz de carregar o dispositivo móvel por meio de entrada USB.  Ela desenvolveu também uma versão para espaços urbanos. Confira na foto a seguir.



Na mesma linha ecológica, o designer sueco Michael Edenius  criou o Clean Closet, um armário produzido com tecnologia molecular que verifica as impurezas dos tecidos das roupas e as limpa removendo partículas e odores. Ou seja, a limpeza ocorre sem o uso da água. O armário conceito foi desenvolvido para uma competição de design da Electrolux e foi finalista em 2010. A nova tecnologia promete substituir o cesto de roupa, as máquinas de lavar e secar, bem como os armários de grandes dimensões.



A versão 2013 da Electrolux Design Lab está em curso, com cinco projetos já escolhidos por votação popular: CarpClean (um capacho que faz a lavagem automática dos solados dos sapatos), o MusicYue (uma espécie de convertedor de poluição sonora em música), o Cellular Pillow (travesseiro dotado de tecnologia celular capaz de absorver dióxido de carbono e de liberar oxigênio, bem como de se livrar de bactérias e gases nocivos ao ambiente), o The world mirror (um espelho que permite experimentar diferentes estações do ano e lugares do mundo) e a Capsula Machine (máquina que faz cápsulas de chá). Para acompanhar a evolução do concurso, basta acessar o site http://electroluxdesignlab.com/en/.

De volta ao mundo das plantas, outro produto amigo do meio ambiente é o marcador de livro Sprout, em formato de brotinho de folha (nas cores verde, amarelo e rosa), desenvolvido pela Connect Design com material ecologicamente correto ao invés de papel.



segunda-feira, 13 de maio de 2013

A arte pop do café sobre rodas no Brasil

MARKETING E DESIGN POP


Estou de volta para falar de um mesmo assunto, porém com ares de brasilidade. No dia 16/03/2013, postei em Café sobre rodas as invenções sofisticadas de designers europeus para a venda de café expresso em carrinhos que circulam em Londres e na Alemanha (Velospresso e The Coffe-Bike). Ao passar no Vagão-Biblioteca, durante uma viagem ao Rio de Janeiro, leio na edição de maio da revista Almanaque Brasil, as versões coloridas que circulam desde os anos 1980 nas ruas de Salvador. É um desfile de imaginação e arte popular nos carrinhos conduzidos por empreendedores ambulantes que vendem cafezinho em garrafas térmicas. Eles fazem tanto sucesso por lá que, às vezes, se emparelham nas proximidades do Elevador Lacerda para a inusitada Cafeata, concurso organizado pela associação Viva Salvador. 

O mais importante, naturalmente, é chegar até o cliente. "De manhã, vendem em filas nos centros de saúde ou em repartições públicas. Pela tarde, percorrem bairros mais centrais e comerciais e, de noite, vão para os bairros residenciais, pois os porteiros são fregueses", informou a fotógrafa e pesquisadora Isabel Gouvêa à revista. Infelizmente, a matéria da está disponível apenas na versão impressa (edição de maio, ano 15, número 169).

Abaixo, a foto "Carrinho de café", criação do artista Paulo César de Jesus, hoje no acervo do Museu Afro Brasil, que atesta: ele foi o precursor desta arte, chegando a alugar suas obras para a filmagem do filme Ó pai, ó (filme brasileiro de 2007, dirigido por Monique Gardenberg, com roteiro baseado em peça de Márcio Meirelles que conta a história dos moradores de um cortiço no centro histórico do Pelourinho, em Salvador). Estrelado por Lázaro Ramos, Stênio Garcia, Wagner Moura, Dira Paes com os atores do Bando de Teatro Olodum).  

Na foto acima, Paulo César com outro carrinho nas ruas de Salvador, em exposição no Pavilhão das Culturas Brasileiras, no Parque Ibirapuera, em São Paulo, na mostra "Design da Periferia", até o dia 29/07/2013. 






domingo, 5 de maio de 2013

Um tributo poético musical a Van Gogh


ARTES


Com pouco mais de um mês de atraso, o que é nada comparado com os 160 anos de nascimento comemorados em 30 de março de 2013, o Pescadas Expressas celebra a arte de Vincent Willem van Gogh (1853-1890), pintor pós-impressionista holandês, com uma canção-síntese.  A vida do pintor foi marcada por dramas pessoais e a fama só ocorreu após a morte dele, no início do século 20, quando suas telas foram exibidas em Paris, em março de 1901. A arte de Van Gogh influenciou várias frentes e "escolas" artísticas no século 19 como o expressionismo, o fauvismo e o abstracionismo. 

Para homenageá-lo, a música de Don McLean, cantor e compositor norte-americano que se tornou famoso pela canção American Pie (folk-pop que chegou rapidamente às paradas de sucesso nos EUA). A música deu nome ao disco lançado em 1971 e nele também está a música Vincent (mais conhecida como Starry Night, nome de famosa tela de Van Gogh), um tributo lírico e poético ao pintor. A composição de Don McLean expressa a grandeza de um gênio da arte, que pintava a escuridão da alma com mãos amorosas. 

Para ouvir a música, clique aqui

Para acompanhá-la, a letra segue abaixo:

Vincent

Starry, starry night 
Paint your palette blue and gray 
Look out on a summer's day 
With eyes that know the darkness in my soul 
Shadows on the hills 
Sketch the trees and the daffodils 
Catch the breeze and the winter chills 
In colors on the snowy linen land 

Now I understand what you tried to say to me 
And how you suffered for your sanity 
How you tried to set them free 
They would not listen, they did not know how 
Perhaps they'll listen now 

Starry, starry night 
Flaming flowers that brightly blaze 
Swirling clouds in violet haze 
Reflect in Vincent's eyes of china blue 
Colors changing hue 
Morning fields of amber grain 
Weathered faces lined in pain 
Are soothed beneath the artist's loving hand 

Now I understand what you tried to say to me 
And how you suffered for your sanity 
And how you tried to set them free 
They would not listen, they did not know how 
Perhaps they'll listen now 

For they could not love you 
But still your love was true 
And when no hope was left inside 
On that starry, starry night 
You took your life as lovers often do 
But I could have told you, Vincent 
This world was never meant 
For one as beautiful as you 

Starry, starry night 
Portraits hung in empty halls 
Frameless heads on nameless walls 
With eyes that watch the world and can't forget 
Like the strangers that you've met 
The ragged men in ragged clothes 
A silver thorn, a bloody rose 
Lie crushed and broken on the virgin snow 

Now I think I know what you tried to say to me 
And how you suffered for your sanity 
And how you tried to set them free 
They would not listen, they're not listening still 
Perhaps they never will

domingo, 21 de abril de 2013

O que fica do que passa: O Arroz de Palma

LITERATURA


O arroz foi uma receita literária compartilhada, em 2012, pelo amigo e escritor Ronaldo Simões Coelho. Certeza de leitura saborosa, garantiu-me Ronaldo. E o chefe de cozinha, o escritor Francisco Azevedo, acertara na escolha dos ingredientes, três deles essenciais para quem gosta de apreciar uma boa leitura: Antonio, um velho de 88 anos, cozinheiro de mão cheia; a Tia Palma (que teve um papel fundamental na educação dele, quando criança, naturalmente); e a memória de Antonio, tempero essencial para construir uma narrativa em flashback para contar a história da família e a própria trajetória de vida.

O romance Arroz de Palma (Editora Record), do escritor Francisco Azevedo, foi lançado em 2008, marcando a estreia do dramaturgo, poeta e roteirista cinematográfico como romancista. Aquele foi o ano de muitos lançamentos editoriais e este não teve a mesma visibilidade, naquele momento, como a de outros livros da mesma safra. Silenciosamente, no entanto, o arroz foi "pegando" e o primeiro romance de Francisco Azevedo vai ganhando a simpatia de novos leitores.

E qual o segredo deste arroz? Além do grão, personagem com data de validade centenária, uma narrativa sentimental e lírica, construída despretensiosamente a partir da imigração de uma família portuguesa para o Brasil e das memórias afetivas do filho primogênito, Antonio, que associa as lembranças de família à forma de preparar os próprios pratos.

"Família é prato difícil de preparar. São muitos ingredientes. Reunir todos é um problema... Pouco importa a qualidade da panela, fazer uma família exige coragem, devoção e paciência. Não é para qualquer um. Os truques, os segredos, o imprevisível. Às vezes, dá até vontade de desistir. Preferimos o desconforto do estômago vazio. Vêm a preguiça, a conhecida falta de imaginação sobre o que se vai comer e aquele fastio. Mas a vida − azeitona verde no palito − sempre arruma um jeito de nos entusiasmar e abrir o apetite. O tempo põe a mesa, determina o número de cadeiras e os lugares. Súbito, feito milagre, a família está servida. Fulana sai a mais inteligente de todas, Beltrano veio no ponto, é o mais brincalhão e comunicativo, unanimidade. Sicrano − quem diria? − solou, endureceu, murchou antes do tempo. Este, o mais gordo e generoso, farto, abundante. Aquele o que surpreendeu e foi morar longe. Ela, a mais apaixonada. A outra, a mais consistente..." 




Crédito da foto acima: Bárbara Monteiro Macedo

domingo, 14 de abril de 2013

Família Schürmann embarca em aventura transmídia

VIAGEM


A primeira família brasileira a dar a volta ao mundo em um veleiro há quase 30 anos está na contagem regressiva para a próxima aventura. A Família Schürmann inicia em novembro a Expedição Oriente para refazer parte da suposta rota dos chineses que, em 1421, teriam sido os primeiros navegantes a contornar o globo. O capitão Vilfredo Schurmann, a esposa Heloísa, os filhos Wilhelm, Pierre e David (líder da tripulação de terra), e o neto Emmanuel, farão a aventura ancorada no tripé inovação, tecnologia e sustentabilidade.

A filha caçula Kat (Katherine Schurmann, filha adotiva que faleceu em 2006, inspirou o livro Pequeno Segredo, da Editora Agir, lançado em 2012, e terá sua história transformada em filme) estará simbolicamente presente ao inspirar o nome do novo veleiro, que sai de Itajaí (SC) no dia 24 de novembro para uma temporada de dois anos em alto mar.

A aventura vem sendo considerada transmídia pela família. Isso porque terá transmissão diária pelo site do projeto, em cinco idiomas. Contará com uma plataforma digital interativa para se comunicar com usuários de todo o mundo; estará nas redes sociais (Facebook, YouTube e Instagram), contará com aplicativos para smartphones e permitirá a interação dos seguidores por meio da criação de embarcações virtuais customizadas por meio de técnicas de gamification. O veleiro também será dotado de um sistema elétrico digital que pode ser manipulado remotamente por dispositivos móveis como um iPad.

O Kat será equipado com sistema de geração de energia limpa, por meio de eólicos, painéis solares, dois hidrogeradores e duas bicicletas ergométricas para a produção de energia durante os exercícios físicos da tripulação. Terá ainda sistema de tratamento de esgoto e um equipamento para reaproveitar o lixo orgânico. Sem contar as quase 110 toneladas em aço utilizados no veleiro (do aço carbono ao inoxidável), fornecidos pela ArcelorMittal Brasil, Aperam e Belgo Bekaert, já que o insumo é 100% reciclável. O conjunto de empresas patrocinadoras do projeto é formado pelas empresas Estácio, HDI Seguros e Solví.


O Blog Expresso fisgou o capitão Vilfredo para uma rápida prosa no Vagão 11:

Adriano Macedo: Quase 600 anos separam a nova expedição da família Schürmann da suposta viagem dos chineses até os confins da terra. De que forma as tecnologias, que evoluíram significativamente, podem ajudar o homem contemporâneo habituado a navegar em mar aberto no exercício da liderança?

Vilfredo Schürmann: A tecnologia irá dar mais segurança se comparamos com 600 anos atrás. Temos informações precisas e em tempo real de previsão meteorológica e assim podemos preparar a redução das velas. Temos cartas náuticas, digitalização com áudio que informa os perigos que teremos na frente, como pedras, corais etc., pingado ao GPS. Temos um equipamento similar ao transpondes dos aviões que indicam o navio que iremos cruzar, sua rota, seu nome e o que ele está transportando. Temos o radar que quando abate a neblina podemos navegar sem nada enxergar na proa. Temos o telefone por satélite que poderemos nos comunicar em caso de emergência. Enfim, a tecnologia está aí pra nos ajudar. No entanto, não podemos esquecer que o mar não mudou nesses 600 anos. Posso dizer que até alterou com tempestades fora de época, como foi o ciclone Catarina, cinco anos atrás. Temos que estar conectados com informações de erupções vulcânicas que podem provocar os Tsukada. Ao olhar o barômetro, quando cai, sabemos que a tempestade virá.

AM: Qual o principal legado uma aventura Transmídia pode deixar para a sociedade de hoje?

VS: Acessibilidade e participação em tempo real. Além de o projeto se tornar algo interativo com feedback imediato. As pessoas poderão mandar dicas, ou curiosidades que poderemos atestar in loco em tempo real. Além disso, também poderão seguir a expedição nas multiplataformas. O legado é de que a aventura acontece em conjunto, aumentando o engajamento e, com isso, levaremos milhares de tripulantes virtuais conosco, que viverão as experiências de certa forma conosco.

AM: Quais os "livros de Proa" pretende levar para a viagem?

VS: Nós temos uma biblioteca grande e alguns livros que ainda não lemos serão levados a bordo. Iremos mesclar livros impressos com tabletes; bons livros de aventura, suspense, policial e também livros de espiritualidade com a engenharia quântica. Quando estamos na roda de leme na madrugada é bom escutar os áudios de livros. É uma delicia e o tempo passa rápido.

Para conhecer a emocionante história de Kat Schürmann, acesse o Diário de Bordo. Para mais informações sobre a aventura, clique em Expedição Oriente.


Crédito das fotos: Família Schürmann. No topo: imagem do veleiro Kat. Ao centro, o capital Vilfredo. Acima, a marinheira Katherine. 

terça-feira, 9 de abril de 2013

O que fica do que passa: Uva de caminhão

MÚSICA


Organizando caixas e revirando papeis expressos, encontro uma cópia da revista literária Edifício, lançada em 1946 pelo professor, pesquisador e ensaísta Francisco Iglésias (1923-1999) com alguns companheiros de sua geração. Ele foi redator da publicação, que teve vida curta, quatro edições se não me engano. Entre os textos publicados o clássico E agora, José?, de Carlos Drummond de Andrade.

Estive na casa do professor Iglésias há quinze anos e o que me vem à memória não é a entrevista que fiz com ele sobre a revista, mas um comentário sobre a música Uva de Caminhão, de Assis Valente (1911-1958), contemporâneo de Cartola, Ary Barroso e Noel Rosa. Composta em 1939, foi considerada por Iglésias uma das músicas mais "indecentes" da Música Popular  Brasileira. E sobreviveu às ditaduras e censuras. Era uma época em que geniais compositores escreviam letras com refinada inteligência e ironia.

E esta música me vem à mente neste momento, quando relembro o professor Iglésias cantando a música ao pé do ouvido, batucando uma caixinha de fósforo. Como a vida é marcada por coincidências ou sincronias, como diria a escritora Ana Maria Machado, constato que o professor completaria, no dia 28 de abril, 90 anos de nascimento. E que ele morreu em fevereiro de 1999, mesmo ano em que foi lançado o CD Assis Valente com Dendê - Sons da Bahia. E lá está a música Uva de Caminhão. No youtube, a música está disponível com outra intérprete.

Uva de Caminhão

Já me disseram que você andou pintando o sete
Andou chupando muita uva e até de caminhão
Agora anda dizendo que está de apendicite
Vai entrar no canivete, vai fazer operação

Oi, que tem a Florisbela nas cadeiras dela
Andou dizendo que ganhou a "flauta de bambu"
Abandonou a batucada lá na Praça Onze
E foi dançar o "pirulito" lá no Grajaú

"Caiu o pano da cuíca", em boas condições
Apareceu Branca de Neve com os Sete Anões
E na pensão da dona Estela foram farrear
"Quebra, quebra gabiroba" quero ver quebrar

Você no "Baile dos quarenta" deu o que falar
Cantando o "seu Caramuru" bota o Pajé pra brincar
Tira, não tira o Pajé, deixa o Pajé farrear
"Eu não te dou a chupeta", não adianta chorar

Se quiser conhecer um pouco mais sobre Assis Valente, acesse o link abaixo para assistir a um programa especial da TV Brasil, exibido no ano do centenário do seu nascimento.

De Lá Pra Cá

Sobre Francisco Iglésias, vamos ver se o mercado editorial reserva alguma surpresa para a efeméride ou se a data passará em branco.

Foto Assis Valente: Wikipédia




quinta-feira, 4 de abril de 2013

Você não precisa de um editor

LITERATURA

A era digital está provocando determinados fenômenos que ajudam a temperar as discussões e reflexões sobre o mercado editorial e os hábitos de escrita e leitura. É o caso, por exemplo, da mudança de paradigmas a respeito do sucesso literário e de como os escritores estão buscando formas alternativas e, em certos casos, bem-sucedidas para publicar os próprios livros, conseguir leitores e construir uma carreira expressa. Este novo caminho está sendo trilhado por autores que decidiram entrar de cabeça no mundo digital, num momento em que o mercado editorial passa por profundas transformações em toda a cadeira do livro.

No dia 23 de fevereiro de 2013, o caderno Ilustrada, da Folha de S.Paulo, publicou a história da escritora paulistana Lilian Carmine sob o título "Escrevi em inglês para ser lida", da jornalista Raquel Cozer. Depois de ter livros infantis recusados pelas casas editoriais brasileiras, ela decidiu publicar, na língua inglesa, uma obra juvenil, em capítulos, numa rede social canadense. Conseguiu fãs e, o mais importante, ser percebida pela editora inglesa Gillian Green, da Random House, simplesmente a maior do setor no mundo.

Oito dias depois, na edição do dia 13 de março de 2013, sob a manchete "Era digital muda conceito de sucesso literário", o jornal Valor Econômico traduziu matéria de Alexandra Alter, do The Wall Street Journal Americas (versão em inglês disponível para leitura; a matéria do Valor está disponível apenas para assinantes, mas é possível fazer um cadastro gratuito para leitura), sobre o livro de suspense "Wool", de Hugh Howey, que já vendeu mais de 500 mil exemplares na Amazon. Considerado um caso editorial raro, ele autopublicou o livro neste site, em formato e-book. Resultado: já recebeu mais de US$ 1 milhão em royalties, vendeu os direitos para o cinema para Ridley Scott, e assinou contrato com a Simon & Schuster para a versão impressa da publicação. Detalhe: manteve os direitos para o livro eletrônico porque está certo de que ganhará mais dinheiro desta forma do que por meio da editora.

Os dois casos têm provocado um debate no setor editorial, principalmente porque as editoras já não conseguem publicar todos os originais recebidos e os escritores começam a encontrar formas alternativas e de renda relativamente estável por meio da autopublicação.

O mercado editorial anda a galope e não tem sido fácil para os personagens deste enredo lerem com a necessária clareza e velocidade todas as transformações que estão ocorrendo. O título desta postagem foi emprestado do PublishNews, newsletter voltada para este setor, onde Iona Teixeira Stevens põe um tempero adicional na discussão sobre o papel do editor neste novo cenário.


Foto acima: Rochpublibrary 

Foto abaixo: Techtalk



sexta-feira, 29 de março de 2013

Cláudio Martins, o mago da ilustração

LITERATURA


Quando voltava da viagem com Olavo Bilac até o ano de 1901, tive a grata surpresa de encontrar, no vagão 15, o escritor e designer Cláudio Martins, o mago da ilustração. Além de agradecê-lo pelas imagens criadas para o conto Nossa Senhora das Águas, aproveitei o encontro para uma prosa sobre a criação de imagens e de livros para crianças.

Adriano Macedo: Que coincidência te ver por aqui logo após compartilhar a profecia de Olavo Bilac, que anteviu o fim da caneta de pena e do texto há mais de 100 anos. Mas o texto não foi assassinado pelos desenhistas, caricaturistas e ilustradores. Com a autoridade de quem já ilustrou mais de 1.000 capas de livros, além de escrever e ilustrar mais de 40 obras de sua autoria, como você avalia o limite entre um (o texto) e outro (a imagem)?  Em outras palavras, onde vai melhor o texto e onde entra a ilustração?

Cláudio Martins: Uau! Não havia lido nada tão profético! 1901? O computador está ai, inteiro, no texto do Olavo Bilac. Isso impressiona. Exatamente em 1900 são publicadas as primeiras fotos na imprensa. Na sequência vieram as gravuras, os recursos gráficos e a narrativa visual, que entrou pra valer. Muita gente deve ter entrado em pânico.

Hoje o Brasil é respeitadíssimo lá fora pela sua literatura infantil. Somos premiadíssimos. Agora passamos a membros de júri das premiações mais importantes do mundo. Mas não sabemos muito bem duas coisas, ler (e compreender o que lemos) e editar livros. O nosso nível de leitura é baixíssimo, nem preciso falar disso, magoa, arrebenta com meu dia.


O nível de compreensão do que é lido dá vontade de ir embora, coisa que farei depois de terminar aqui. Editar livros é estabelecer um tripé: editora, autor, ilustrador. O livro, produto industrial, precisa dos três para se manter em pé. Com frequência fazemos isso bem, é certo. Mas o ilustrador não é considerado autor de nada. Normalmente ele é acessório, auxílio, apoio para o texto. Costumam pedir um esboço inicial  para a avaliação pelo autor e pela editora.

Vou contar uma história que o escritor Sergio Fantini gosta. Lá nos primórdios ilustrei um livro onde havia uma araponga, que nada fazia além de dar uns gritos na história. Na minha inocência burra sugeri para a autora trocar por uma arara, que berra tanto quanto e é um projeto sensacional de design. O livro ficaria mais bonito, pois a tal araponga é uma galinha cinza, medíocre.

Levei muita pancada, gente. A autora disse que não permitia interferência na sua criação, na sua invenção solitária, intelectual e o escambau. Vejo muitos livros onde o texto diz que o João pegou uma bola azul e correu para o jardim e a ilustração fala exatamente a mesma coisa. Redundância chata que faz perder a vontade de ler. Quando uma editora escolhe um ilustrador figurativo, mais realista, que tem uma narrativa clara, deveria, feitas as ilustrações, pedir ao autor que mudasse seu texto aqui e ali, que o ajustasse, falasse, por exemplo, do sonho, da alegria do João, da bola, da liberdade do jardim. Porque muitas vezes a qualidade narrativa da ilustração é muito, mas muito superior ao texto. Devíamos pedir aos autores um esboço e nele, aqui e ali, meter o bedelho sugerindo circunstâncias mais interessantes que aumentassem a eficiência do produto.

Morro de pena dos autores. Escrevem, escrevem, escrevem, precisam de botar tudo lá, todos os detalhes, sem dúvida, completo, repleto, porque disseram para eles que o "texto tem que parar em pé sozinho". Esqueceram de informar que a ilustração é parceria, sociedade, vaso comunicante e narradora da história também. Atenção senhores: Livro infantil e juvenil é LIVRO, não é literatura. É projeto industrial, design, programação visual, texto, ilustração, acabamento e distribuição.

Eu já acabei com muitos textos bons. Liquidei, matei, estraguei. Mas sei também que já vendi muitos livros pelas ilustrações, autores já enfiaram muita grana no bolso com compras governamentais e alguns não me deram um telefonema, um e-mail, um rabisco, um cisco. Sou pela divisão pela metade dos direitos autorais e do valor das ilustrações entre autor e ilustrador. Já fiz isso muitas vezes.

AM: O que é uma boa ilustração para você?

CM: Uma boa ilustração é aquela que cria um tempo, um silencio, uma reflexão. Na música o silencio é tão importante quanto o som. Aliás, muitas delas deveriam ser puro silêncio. Eu estou começando, depois de quarenta anos de prancheta, a entender isso.

AM: Ziraldo o entrevistou e disse que "Abaixo à Ditadura!" é um livro que todo menino brasileiro tem que ter. Como conseguiu transportar um tema tão árido para o universo da criança?

CM: Abaixo à Ditadura! é simples. Eu só contei a verdade, só coloquei lá, como num documentário, coisas que haviam acontecido. Ficou engraçado? As crianças gostam de palhaçadas. E era assim, bem medíocre. O poder auto conferido é ridículo, seja na república ou num grupo de qualquer coisa. Se o povo tivesse consciência, senso crítico, leitura, leitura, leitura, aquela bobagem assassina não duraria nada.



AM: Algum lançamento em vista?

CM: Tenho dois lançamentos para 2013: Bota a Calça, Calça a Bota pela editora Cortez, e Fortuna pela Paulinas.



terça-feira, 26 de março de 2013

Olavo Bilac profetizou o início da era da imagem no Brasil

LITERATURA

O poeta e cronista Olavo Bilac (1865-1918), autor do Hino à Bandeira Nacional e de livros como “Alma inquieta” e “O caçador de esmeraldas”, previu, em 1901, o fim do texto e da leitura com o advento da imagem. Ele não se referia, naturalmente, à televisão, ainda longe de se tornar realidade, nem ao cinema, que se encontrava nos seus primórdios no Brasil, restrito à elite carioca.

Na crônica “Fotojornalismo”, Olavo Bilac prenunciou a “desgraça” dos escritores com a chegada da imagem e das gravuras nos jornais. 

“Vem perto o dia em que soará para os escritores a hora do irreparável desastre e da derradeira desgraça. Nós, os rabiscadores de artigos e notícias, já sentimos que nos falta o solo debaixo dos pés… Um exército rival vem solapando os alicerces em que até agora assentava a nossa supremacia: é o exército dos desenhistas, dos caricaturistas e dos ilustradores. O lápis destronará a pena: ceci tuera cela.”

Li o texto no Vagão-Biblioteca deste blog, assim que o recebi da professora Graça Sette. A virada do século já era motivo de apreensão para os escritores que refletiam a sociedade em transformação no início do século 20. Mais de duas décadas antes da publicação da crônica de Guilherme de Almeida, publicada em Pausa para o café expresso, a rapidez do mundo já era motivo de angústia:



“O público tem pressa. A vida de hoje, vertiginosa e febril, não admite leituras demoradas, nem reflexões profundas. A onda humana galopa, numa espumarada bravia, sem descanso. Quem não se apressar com ela será arrebatado, esmagado, exterminado. O século não tem tempo a perder. A eletricidade já suprimiu as distâncias: daqui a pouco quando um europeu espirrar, ouvirá incontinenti o “Deus te ajude” de um americano. E ainda a ciência humana há de achar o meio de simplificar e apressar a vida por forma tal que os homens já nascerão com dezoito anos, aptos e armados para todas as batalhas da existência.

Já ninguém mais lê artigos. Todos os jornais abrem espaço às ilustrações copiosas, que [***] pelos olhos da gente com uma insistência assombrosa. As legendas são curtas e incisivas: toda a explicação vem da gravura, que conta conflitos e mortes, casos alegres e casos tristes.

É provável que o jornal-modelo do século 20 seja um imenso animatógrafo, por cuja tela vasta passem reproduzidos, instantaneamente, todos os incidentes da vida cotidiana. Direis que as ilustrações, sem palavras que as expliquem, não poderão doutrinar as massas nem fazer uma propaganda eficaz desta ou daquela idéia política. Puro engano. Haverá ilustradores para a sátira, ilustradores para a piedade.
Quando o diretor do jornal quiser dizer que o povo morre de fome – confiará as suas idéias a um pintor de alma fúnebre, que mostrará na tela os cadáveres empilhados pelas ruas, sob uma revoada de corvos sinistros; quando quiser dizer que o político X é um cretino que não vê dois palmos adiante do nariz – apelará para o talento de um caricaturista, que, pintando a vítima com um respeitável par de imensas orelhas, claramente exprimirá o pensamento da folha. Demais, nada impede que seja anexado ao animatógrafo um gramofone de voz tonitruosa, encarregado de berrar ao céu e à terra o comentário, grave ou picante, das fotografias.

E convenhamos que, no dia em que nós, cronistas e noticiaristas, houvermos desaparecido da cena – nem por isso se subverterá a ordem social. As palavras são traidoras, e a fotografia é fiel. A pena nem sempre é ajudada pela inteligência; ao passo que a máquina fotográfica funciona sempre sob a égide da soberana Verdade, a coberto das inumeráveis ciladas da Mentira, do Equívoco, e da Miopia intelectual. Vereis que não hão de ser tão freqüentes as controvérsias…

Quando é assassinado um homem – este jornal vem dizer que lhe coseram o corpo a facadas, aquele que o asfixiaram, aquele outro que lhe estouraram o crânio a tiros de revólver. Ora, o público tem pressa: como há de perder tempo em procurar a verdade dentro deste acervo de contradições e de divergências?…
Há dias, foi preso um sujeito por espancar uma mulher. E os repórteres puseram em campo toda a sua fantasia, com tal gana que o pobre homem veio ontem a público elucidar o caso, conforme se vê nesta sua declaração, textualmente transcrita dos “a pedido” do Jornal do Comércio: “Os jornais deram desencontradas notícias acerca de um crime hediondo que uns vizinhos me imputaram. As versões são diferentes: o Jornal do Brasil anteontem afirmou que eu espanquei minha própria mãe; O País de ontem contou que eu bati em minha tia; O Dia relatou que eu ofendi a minha irmã…”
Concebe-se a maior atrapalhação? A verdade é que a mulher espancada não era mãe, nem tia, nem irmã, nem mesmo avó do desgraçado! E é assim que se escreve a História…

Imagine-se agora a série formidável de complicações que podem trazer esses exageros de fantasia, quando empregados em caso sério, de alta monta para a vida moral da nação.

Uma folha virá dizer amanhã que o sr. presidente da República foi a tal ou qual festa trajando um terno de casimira marrom; outra diria que Sua Excelência levava calças cor de cinza e de sobrecasaca preta; uma terceira afirmará que Sua Excelência vestia um dólmã branco… E a gente, diante de tantas opiniões diferentes, ficará com o juízo a arder, não podendo adquirir uma idéia assentada e perfeita sobre esse ponto, que tão grave influência pode exercer sobre a integridade da pátria e a solidez das instituições republicanas.

Outro caso interessante: o do amigo Galvez, que, depois de ter transposto a porta da eternidade, aparece agora espairecendo pela Puerta Del Sol em Madri. É ele? Não é dele? Quem sabe? Fotografem-no, e veremos…

Não insistamos sobre os benefícios da grande revolução que a fotogravura vem fazer no jornalismo. Frisemos apenas este ponto: o jornal-animatógrafo terá a utilidade de evitar que nossas opiniões fiquem, como atualmente ficam, fixadas e conservadas eternamente, para gáudio dos inimigos… Qual de vós, irmãos, não escreve todos os dias quatro ou cinco tolices que desejariam ver apagadas ou extintas? Mas, ai! de todos nós! Não há morte para as nossas tolices! Nas bibliotecas e nos escritórios dos jornais, elas ficam – as pérfidas! – catalogadas; e lá vem um dia em que um perverso qualquer, abrindo um daqueles abomináveis cartapácios, exuma as malditas e arroja-as à face apalermada de quem as escreveu… Daqui em diante, não haverá esse perigo: ninguém se arrependerá do que tiver escrito, pela razão única e simples de que nada mais se escreverá…

No jornalismo do Rio de Janeiro, já se iniciou a revolução, que vai ser a nossa morte e a opulência dos que sabem desenhar. Preparemo-nos para morrer, irmãos, sem lamentações ridículas, aceitando resignadamente a fatalidade das coisas, e consolando-nos uns aos outros com a cortesia de que, ao menos, não mais seremos obrigados a escrever barbaridades…

Saudemos a nova era da imprensa! A revolução tira-nos o pão da boca, mas deixa-nos aliviada a consciência.”



quinta-feira, 21 de março de 2013

Dantas Mota, o canário de Aiuruoca

LITERATURA


O Pescadas Expressas seguiu até Aiuruoca (MG) e, durante a viagem, fisgou, no vagão 3, o escritor, ensaísta, letrista musical e mestre em Literatura Brasileira, Caio Junqueira Maciel, para uma prosa poética sobre Dantas Mota (1913-1974), que completaria neste 22 de março o seu centenário de nascimento. Reverenciado pelos críticos e por escritores do quilate de Mário de Andrade e Carlos Drummond de Andrade, Dantas Mota, que nasceu na região, não teve a sua obra devidamente conhecida pelo público.

Adriano Macedo: Por que "carece" ler Dantas Mota, conforme sugeriu Mário de Andrade ao escritor, crítico de arte e de literatura Sérgio Millet?

Caio Junqueira Maciel: Carece ler Dantas Mota porque Mário, autor de O carro da miséria e Elegia de abril, sabia que igualmente profundo e enorme era o poeta mineiro, autor da Epístola de São Francisco e de Planície dos mortos. Mário foi amigo de Dantas e percebia que esse poeta não era apenas um epígono modernista, mas um lírico que cavava fundo, ia nas raízes longínquas das vozes elegíacas e também das vozes de protesto, amalgamando o telúrico, o mítico e o metafísico.

AM: Qual foi o principal legado que o poeta deixou para a literatura brasileira?

CJM: O legado que o poeta de Aiuruoca deixa para a literatura brasileira é, infelizmente, ainda captado por autores isolados. Mas quem se nutriu dessa poesia áspera e montanhosa, difícil e triste, bíblica e misteriosa, perturbadora e contundente, há de nela auscultar palpitações antigas, o choro da terra, o lamento das coisas (retomando o grande Augusto dos Anjos), o carinho tímido que roça e coça as mãos dos mineiros desconfiados. Em Dantas vemos muitos anjos, que não são exatamente os de Rainer Maria Rilke; vemos escombros e andrajos das terras devastadas, que não são exatamente as de T.SElliot; vemos o sentimento do mundo, aí, sim, com notações de Carlos Drummond, mas com algo mais, que torna seu estilo inconfundível e inquietante.

Há mais de 30 anos escrevi uma dissertação sobre Dantas Mota. Um dos examinadores, o professor Wilton Cardoso, em suas críticas, considerou que, na verdade, eram duas as minhas dissertações, pois trabalhei caudalosamente com a temática do tempo, da profecia e escritura na obra Elegias do país das gerais, que considero o melhor livro do poeta. Até hoje o livro não foi publicado, embora esteja disponível nas prateleiras da biblioteca da Faculdade de Letras da UFMG.

Quando escrevi a dissertação, o que me motivou não foi nenhuma pretensão acadêmica (da qual fujo como o diabo da cruz), mas a profunda admiração pelo poeta e o juramento que fiz diante de seu túmulo. Conheci o poeta Dantas desde menino, ele frequentava a farmácia de meu pai, em Cruzília (MG), onde comprava atenuantes pro seu fígado (era legendário o uísque que carregava no bolso do casaco). Ouvia seus casos, pois foi um imbatível advogado da região e, mais tarde, comecei a me inquietar com sua poesia. Fui ferido com suas palavras por ocasião da morte de meu avô, Cornélio Maciel, que era líder político do PSD, na região, enquanto o Dantas era ferrenho udenista. Apesar da diferença partidária, o poeta admirava meu avô e fez um reconhecimento público, num veemente discurso à beira do túmulo. Mais tarde, já fazendo o curso de Letras, fui até Aiuruoca, com meus irmãos Walter e Zé Maurício, e mais o poeta Adolfo Maurício Pereira, e lá passamos a tarde inteira em conversas e goles. Infelizmente, a gravação se perdeu, mas ainda tenho fotos (na imagem acima, da esquerda para a direita: Adolfo Maurício, Dantas Mota, Caio e Walter Junqueira Maciel). A minha memória abriga muita coisa boa que ele me falou, principalmente as dicas de leitura, como Quixote, Grande Sertão, Verlaine, Drummond...

No sepultamento de Dantas Mota, em Aiuruoca, no dia 10 de fevereiro de 1974, emocionado, ouvi o doutor Júlio Sanderson, fraterno amigo do poeta, discursar no fórum da cidade. Ele dizia que Aiuruoca havia perdido seu cantor.  Dantas tem um verso que diz:

“Ninguém sabe quando sou boi, ninguém sabe quando sou leão”.

Mas ele foi mesmo um canário, de canto elegíaco, nos transmitindo coisas assim:

“Cantando vou desta Aiuruoca seu vasto
cemitério, onde, afinal, com companhia,
vivo e sério,
me sinto enterrado só.”

Há poetas que sempre citam Dantas Mota. Entre eles, destaco Gerardo Mourão, sobretudo em Invenção do mar, assim também como Gilberto Nable, também aiuruocano, que escreveu belíssima elegia sobre seu conterrâneo.

AM: Você articula algumas iniciativas para remarcar o centenário de nascimento do poeta. Conta um pouco sobre elas. 

CJM: O Suplemento Literário do Minas Gerais prepara uma edição especial. Estou colhendo depoimentos e aguardo contribuições. Mas ainda acho pouco, pois esse grande aiuruocano deveria ser mais conhecido, ainda mais que o nome de Francisco está na moda, pois um dos imprescindíveis poemas de Dantas Mota é sua epístola de São Francisco – o rio – que diz coisas assim:

Este é um país que já nasce morto.
Porque, em verdade, sou morto.
Desde Paracatu do Príncipe, no País das Gerais,
até o Mar Atlântico, no País das Alagoas,
Sergipe, Bahia, Pernambuco, assim seja, amém!
Porque a paz que desfruto é a de uns olhos lagrimados,
e a boca que exibo sangrenta de terras e piranhas,
a de uns fruitos sem colheita e sem razão;
De vez que só os pássaros, os pássaros da alma e do tempo,
nela poisam. Sem madrugada, sem profecias e sem razão.

AM: Que tal uns HAI-KAIS expressos de sua autoria para homenagear Dantas Mota? 

CJM: O que a vida lavra
em chuva, tristeza e pedra,
moldou em palavra.

O que a vida ladra
canina fúria rapina,
consigna em quadra.

Pela vida afora
juntos o dantes e o hoje
moitas de metáfora.



segunda-feira, 18 de março de 2013

O que fica do que passa: Porta do Sol

LITERATURA


Revisito com o Blog Expresso, cinco anos depois, o município de João Pessoa, a Porta do Sol, a terceira capital de estado mais antiga do Brasil, fundada em 1585. A ideia não é voltar à Ponta do Seixas, o ponto mais oriental das Américas; passear nas piscinas naturais (última foto do post); rever o centro histórico (acima) e o belo conjunto de São Francisco; tomar um banho de mar em Tambaú, Manaíra e Cabo Branco; voltar ao mercado de artesanato ou rever o pôr do sol na Praia do Jacaré ao som do Bolero de Ravel, executado pelo saxofonista Jurandir (foto logo abaixo).


O que me leva de volta à Porta do Sol é o que acabo de receber das mãos virtuais do criador Cláudio Martins, uma versão ilustrada do conto Nossa Senhora das Águas, que se passa na capital da Paraíba. Na narrativa, os personagens vivem seus dramas particulares à beira da praia. O texto foi publicado no Suplemento Literário de Minas Gerais (editado pelo escritor Jaime Prado Gouvêa) e, posteriormente, na antologia Coletivo 21 (Autêntica Editora).



 Crédito das fotos: Prefeitura de João Pessoa/Divulgação 

sábado, 16 de março de 2013

Café sobre rodas

MARKETING/DESIGN



Seguia de um vagão para outro deste blog Expresso quando um rapaz me abordou no meio do caminho.

- Achei interessante sua crônica sobre modernidade, mas você falou de café sobre rodas?

- Veja, a crônica não era minha, mas do Guilherme de Almeida. Apenas criei um arco imaginário até os dias de hoje. O café sobre rodas é um charme só, né não? Sem falar no design dos projetos e, claro, no aroma do café. 

- Achei curioso. Onde posso ler a respeito?

Informei ao rapaz que não vi nenhum café sobre rodas no Brasil, mas li uma matéria na revista Exame, no ano passado, sobre o Velopresso (foto abaixo), que ganhou as ruas de Londres. Mas há ainda a alemã Coffee-Bike. Os conceitos são similares: mobilidade, proximidade do consumidor e a saúde (de quem pedala e a do planeta). Isso porque as pedaladas podem gerar energia, dispensando o uso de eletricidade. 

O Velopresso foi desenvolvido por Amos Field Reid e Lasse Oiva, dois designers egressos do Royal College of Art. A The Cofee-Bike (foto acima) foi fundada em 2010 na Alemanha e se tornou uma rede de franquia, em expansão na Europa. Criada por Jan Sander e Tobias Zimmer, estudantes também no final do curso universitário. Além do café, orgânico, é possível preparar bagels, paninis e similares, além de opções de produtos de pâtisserie

O curioso é que o Brasil, maior produtor de café, ainda não desenvolveu nada similar por aqui. Seria uma forma saborosa e inteligente de gerar valor agregado ao produto. Algum empreendedor se habilita? Fica a sugestão ainda para a criação de um espaço, mínimo que seja, para a literatura. Para emprestar ou vender bons livros.